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Saúde no trabalho: Como evitar a exaustão e manter a equipe criativa

A pandemia de Covid-19 acentuou casos de estresse, ansiedade e exaustão no ambiente de trabalho. No momento em que as organizações começam a definir um novo modelo de retorno aos escritórios prevendo maior flexibilidade, incertezas internas e externas contribuem para uma forte sobrecarga emocional.


De acordo com Wagner Gattaz, psiquiatra e professor titular de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, houve um aumento de 40% no número de pessoas com quadros de ansiedade, depressão e burnout no último ano. “O burnout leva a um sofrimento grande, pois compromete a felicidade no trabalho, que é onde passamos grande parte de nosso tempo”, afirma.


Para Oliver Kamakura, sócio de consultoria em Gestão de Pessoas da empresa EY Brasil, o indicador de burnout aumentou no último ano e está “fundamentalmente associado à ansiedade”. “E a ansiedade, por sua vez, muitas vezes está associada à falta de direção das empresas em definir, por exemplo, como será o modelo de trabalho nesse retorno aos escritórios. A regra está aberta e as empresas não tomam uma direção”, explica o consultor.


Como as empresas podem, então, evitar a exaustão no trabalho e manter o time criativo? Em entrevista, o psiquiatra Wagner Gattaz fala sobre o burnout, como diminuir seu risco e a atuação das lideranças com o time.


Ainda que as empresas estejam voltando à normalidade (trabalho presencial ou híbrido), há um impacto psicológico de tudo o que foi vivido durante a pandemia. Como isto se refletiu na saúde mental dos trabalhadores?

Vivemos tempos difíceis, com forte sobrecarga emocional causada pela insegurança gerada pela pandemia: medo de contrair a Covid-19, insegurança quanto à manutenção do emprego, e tudo isso agravado pelo afastamento social e pela diminuição de possibilidades para o lazer e relaxamento do trabalho.


Esta pressão gerou um estresse que contribuiu para um aumento de 40% da ansiedade, das depressões e do burnout. Principalmente o burnout leva a um sofrimento grande, pois compromete a felicidade no trabalho, que é onde passamos grande parte de nosso tempo.


Quais são as características do burnout?

O burnout, ou síndrome de esgotamento no trabalho, é caracterizado por três dimensões. A primeira é um esgotamento emocional, caracterizado por cansaço constante e falta de energia para o trabalho.


A segunda, uma despersonalização, que se manifesta por uma atitude negativa e distanciamento das pessoas, com descaso pelas convenções sociais e uma descrença na integridade, na bondade e na honestidade das pessoas.


A terceira é uma autoavaliação negativa, com sentimento de fracasso e incompetência.


E quais são os sintomas do burnout?

Ocorrem queixas físicas e mentais, como mal-estar generalizado, falta de energia, exaustão física e mental, insônia, dificuldade de concentração e raciocínio, irritabilidade, dores e tensões musculares.


São sintomas parecidos com os que ocorrem numa depressão, com a diferença que no burnout os sintomas ocorrem apenas na situação de trabalho, podendo a pessoa ser feliz e produtiva fora dele.


A depressão compromete o bem-estar geral da pessoa, enquanto o burnout afeta apenas o bem-estar relacionado ao trabalho.


O burnout foi incluído, a partir de 2022, como um fenômeno ocupacional na Classificação Internacional de Doenças, da Organização Mundial de Saúde. Isto significa que o burnout passou a ser visto como uma doença do trabalho?

Não. Embora ele esteja incluído da CID, ele está incluído no capítulo de “Fatores influenciando o estado de saúde ou o contato com serviços de saúde”, mas que não são classificados como doenças.


Nesta mesma categoria estão incluídas outras condições, como o sedentarismo, a pobreza e a ameaça de perder o emprego.

Embora o burnout, por definição, se manifeste no trabalho, dizer que ele é uma doença do trabalho é o mesmo que dizer que a pobreza ou o emprego ameaçado também sejam condições patológicas.


Quais sinais mostram que uma equipe está beirando a exaustão, em risco de burnout?

Raramente, o burnout acomete toda a equipe ao mesmo tempo. Geralmente, a exaustão acomete indivíduos mais vulneráveis e que apresentam comportamento de risco: são aquelas personalidades ambiciosas e perfeccionistas, que querem se tornar insubstituíveis e por isso não conseguem delegar, não conseguem dizer “não” e nem estabelecer limites, se sobrecarregando com o trabalho e deixando de lado suas necessidades pessoais, como família e lazer.


Para desencadear o burnout, estes comportamentos de risco interagem com fatores de risco do ambiente de trabalho, como excesso de demanda combinada com falta de autonomia e baixo apoio social.


O burnout resulta, então, de uma vulnerabilidade individual combinada com o risco ambiental. Os sinais precoces são uma queda gradativa da produtividade, com dificuldade para tomar decisões, procrastinação e conflitos gerados por uma maior intolerância e irritabilidade.


Queixas físicas generalizadas, com aumento de procura dos serviços de saúde e afastamentos, ocorrem também com frequência nestas fases iniciais do esgotamento.


O que os colaboradores podem fazer para diminuir estes riscos, principalmente considerando os efeitos do trabalho remoto?

Nestes mais de 2,5 anos de pandemia, estamos aprendendo a conviver com ela e reconhecemos alguns comportamentos que ajudam a superar estes tempos difíceis com menos sofrimento físico e mental.


O trabalho em casa necessita de alguns ajustes para manter-se saudável e produtivo.


E como as lideranças podem atuar para manter o time produtivo e criativo, evitando a exaustão no trabalho?

O líder tem de estar presente para dar o foco nas metas comuns e evitar micromanagements (estilo de gestão em que o líder controla de perto o trabalho de seus funcionários). Estar presente significa garantir acessibilidade, estabelecer metas claras e expectativas transparentes.

A criatividade é estimulada conferindo autonomia para o colaborador, dando-lhe espaço para decidir como e quando atuar para atingir as metas estabelecidas.


Isto vale também para o trabalho remoto, onde é primordial o respeito aos ritmos individuais e à flexibilidade de horários, permitindo que cada um aproveite ao máximo o seu pico circadiano [ao longo de 24 horas] de atividade biológica e mental. E, finalmente, o líder deve adotar uma comunicação assertiva, com reconhecimento sincero e feedback construtivo frente aos seus liderados.


Em que momento o profissional deve levar a questão ao gestor?

O primeiro passo é o profissional reconhecer, detectar em si mesmo a instalação de um processo de esgotamento no trabalho. Isto torna-se possível com um programa de informação sobre saúde mental dentro da empresa.


Neste programa os gestores devem, também, ser preparados para acolher sem preconceitos colaboradores em sofrimento mental, encaminhando-os para ajuda médica e psicológica.

O burnout, junto com a depressão e a ansiedade, ao lado do imenso sofrimento que causam, estão entre as causas mais frequentes de queda de produtividade no trabalho.

A boa notícia é que elas podem ser diagnosticadas com precisão e tratadas com eficácia, reduzindo o sofrimento e aumentando a performance pessoal e profissional dos colaboradores.



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